Lorito e Loreto Lorito e Loreto - Boiadeiro Magoado

Eu estava no alto da serra
Quando vi uma boiada passando
Recordei longínquo passado
Ao ouvir o berrante repicando

Senti uma pontada no peito
No meu coração machucando
Relembrei o passado risonho
Que no tempo foi se distanciando

Ressurgiu nesta mente cansada
Tudo que para trás foi ficando
O saudoso tempo de peão
Que hoje tão só vivo recordando

Tempo ingrato que tudo se apaga
E no peito só faz cicatriz
A saudade deste boiadeiro
No presente me faz infeliz

Eu guardei o diário da mente
As proezas que um dia fiz
A idade que avança e não para
Vai cumprindo o que o ditado diz

Vai matando o sonho de quem
Pelo fim a vida por um triz
Judiando o velho boiadeiro
Que esta vida um dia tanto quis

Hoje guardo meu velho berrante
O meu laço de couro trançado
Minha chilena de sete dentes
Lá no prego deixei pendurado

O meu basto sorocabano
O meu pingo no campo largado
São lembranças que faz reviver
Com tristeza meu tempo passado

Quem já foi um bom boiadeiro
Hoje leva no peito guardado
A paixão que machuca e fere
O pobre peão triste magoado